Notícia Mais um (forte) motivo para eu não gostar de SUV

O SUV é uma maquiavélica invenção da indústria automobilística para aumentar sua rentabilidade, pois incrementa preços apesar de reduzir a entrega. As fábricas contribuem como podem para tornar o utilitário esportivo uma “tendência”, agregam uma duvidosa pitada de charme ao modelo, gente famosa ao volante, forçam a barra para que ele apareça em filmes, novelas e séries.

E o cliente paga mais só para sair bem na foto, certo de estar levando (e exibindo para o vizinho) o que de melhor existe hoje disponível no mercado. Mas não troco um sedã ou perua por nenhum deles.

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Além dos inúmeros pontos negativos do SUV, que acho desnecessário repetir, surgiu mais um, objetivamente perigoso: a redução de visibilidade do motorista que, como consequência, aumentou o número de acidentes com pedestres e ciclistas.

Visibilidade comprometida


A pesquisa foi conduzida pelo IIHS (Instituto de Seguros para Segurança Rodoviária) nos EUA, que registrou uma elevação do numero de acidentes envolvendo pedestres e ciclistas num período de 25 anos (entre 1997 e 2022). E uma efetiva redução na visibilidade do condutor nos SUVs, os veículos que mais aumentaram sua participação percentual no mercado norte-americano.

O aumento de pontos-cegos nos SUVs provocou uma redução de até 40 pontos percentuais na visibilidade. O IIHS aferiu esta diferença instalando câmeras à altura dos olhos do motorista para definir que superficie ele é capaz de identificar 10 metros à frente do volante.

Num Honda CR-V versão 1997 a área era de 68%, enquanto no modelo 2022 ela se reduziu para 28%. A obstrução da visibilidade frontal do motorista é provocada pela maior altura do capô, enquanto os grandes retrovisores bloqueam a visão na diagonal. Os pilares A (colunas entre parabrisa e porta dianteira) também contribuem para aumentar os pontos cegos.

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Honda CR-V 1997
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Honda CR-V 2022 (Fotos: Honda | Divulgação)

No caso de um SUV da GM, o Suburban, a área foi reduzida de 58% também para apenas 28%, pelos mesmos motivos.

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Chevrolet Suburban 2000 (Foto: Chevrolet | Divulgação)

E nos sedãs?


Ao contrário dos SUVs, o sedãs Honda Accord e Toyota Camry não tiveram crescimento tão significativo dos pontos cegos. O Accord, no mesmo período, teve redução de visibilidade inferior a 8%.

Pesquisadores do Centro Volpe (do Departamento de Transportes dos EUA) foram os primeiros a usar este método do IIHS para determinar a área de visão do motorista em volta do veículo.

“Precisamos investigar se esta é uma tendência mais ampla que pode ter contribuído para o recente aumento nas mortes de pedestres e ciclistas”, disse o presidente do Instituto, David Harkey. “Este estudo também ilustra que o novo método desenvolvido pelo IIHS oferece aos pesquisadores uma maneira simples e recorrente de avaliar a visibilidade do motorista”, completou.

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Honda Accord 2003
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Honda Accord 2023 (Fotos: Honda | Divulgação)

Este novo método usa um software e uma câmera portátil que pode ser posicionada em diversas altura no banco do motorista, simulando suas diversas alturas. A rotação da câmera permite criar uma imagem de 360º que determina o campo de visão do motorista , e também um valor numérico da porcentagem de área no entorno do veículo com visibilidade.

Como o sistema permite que engenheiros e pesquisadores obtenham informações em show-rooms e outros locais de facil acesso, a pesquisa está sendo realizada atualmente em cerca de 150 diferentes modelos, avaliando os efeitos das diferentes zonas de pontos cegos em acidentes com pedestres. E também a relação entre pontos cegos e indenizações das companhias de seguros.

Antipatia?


Eu nunca tive especial simpatia pelos SUVs. E sou eventualmente contestado sob alegação de subjetividade em alguns dos meus argumentos. Mas o aumento de acidentes com pedestres e ciclistas provocado pela redução de visibilidade é incontestável.

Será que a indústria automobilística (apoiada pelas seguradoras) vai novamente usar de sua criatividade, criar uma nova “tendência” menos perigosa e declarar ultrapassado o SUV?

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