Notícia Preço dos combustíveis: em berço esplêdido, mas incentivando a carbonização

  • Parlamenteres e governo querem baixar preço de combustível com subsídios
  • Gasolina brasileira está na média de preço mundial; renda da população é baixa
  • Brasil está na contramão do mundo ao incentivar combustível fóssil

Nas últimas semanas, tomou conta do noticiário econômico a tentativa de redução do preço dos combustíveis. Parlamentares empilham projetos para baratear seu custo. O Congresso examina o assunto. O governo elabora emendas.

O país continua deitado em berço esplêndido, sobre infinitos recursos naturais, mas faltam centros de pesquisas, cientistas, laboratórios e verbas voltadas para explorar esta riqueza e transformar o Brasil num exemplo de modernidade e independência energética.

É uma vergonha estarmos engalfinhados numa guerra tributária para reduzir o preço do combustível fóssil. Uma pilha de propostas para criar fundo especial, reduzir impostos do diesel e gasolina, alterar o cálculo do tributo estadual (ICMS) ou taxar as exportações e os dividendos da Petrobrás. Toda essa trapalhada para estimular a queima de carbono.

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Em ano eleitoral, vale tudo. Até atropelar as ponderações do Ministério da Economia, já nocauteado por poderosos políticos que ditam hoje as regras do jogo econômico.

Tem que baixar o preço da gasolina pois ela está entre as mais caras do mundo. Mentira: está próxima do valor médio internacional. Mas o bolso do brasileiro sofre mais, pois seu salário é muito inferior ao de outros países. Se fosse mesmo para reduzir, que seja o diesel, que influi diretamente no custo do arroz, feijão e do transporte público.

Redução de impostos de combustíveis é tiro no pé​

boca tanque de combustivel

Preço de combustível nas alturas tem vários motivos

Redução de impostos é um tiro no pé e só funciona a curto prazo. As dezenas de bilhões de reais que se deixam de recolher desajustam as contas públicas. Que tem como efeito imediato uma distorção cambial que empurra o dólar para cima. E, se a moeda americana sobe, o custo do petróleo acompanha e, junto, o custo dos combustíveis. A médio prazo, volta tudo à estaca zero. Mas deixa os cofres públicos arrombados.

“Não! – protesta um parlamentar – é só dar um basta a esta inexplicável política de equiparar preços dos combustíveis ao dólar. Afinal, a Petrobras não extrai o petróleo de que necessitamos?”.

O ignorante nem imagina que os custos da Petrobras para extração do petróleo são debitados em moeda estrangeira. Plataformas marítimas, máquinas, insumos, navios, helicópteros. Ignora também que nosso ouro negro é do tipo pesado e nossas refinarias só estão capacitadas ao refino do tipo leve. Então exportamos o que extraímos e importamos o que refinamos. Nada em moeda nacional.

Além disso, soluções emergenciais não levam a lugar nenhum. Dona Dilma tentou represar os preços dos combustíveis derrubando sua flexibilização em relação à cotação internacional do petróleo e do dólar. Quase quebrou a Petrobrás e nada resolveu.

Matriz energética brasileira​


Pior ainda: o país já deveria ter estabelecido uma política de longo prazo em relação à matriz energética. Que sentido faz propor incentivo ao uso do petróleo nos dias de hoje? Combustível fóssil está mais que condenado no mundo inteiro e já sofre desincentivos e proibições nos países desenvolvidos. Carbonização virou palavrão.

Inacreditável que o Brasil ainda não tenha estabelecido uma política energética adequada aos nossos recursos naturais. Somos um dos maiores produtores de biocombustíveis do mundo. Já temos etanol para substituir a gasolina. E dois tipos de biodiesel para o transporte pesado. Um deles já vai misturado ao diesel (10%, o B10), mas ainda sofre algumas restrições.

Entretanto, existe um segundo (“Diesel Verde”) chamado HVO (Hydrotreated Vegetal Oil), o óleo vegetal hidrotratado. Este, em fase experimental no Brasil e com previsão de construção das primeiras usinas para produzi-lo, tem a mesma molécula do diesel obtido do petróleo e pode ser usado 100% pelos motores.

Hidrogênio do etanol​


Tivesse o governo federal sensibilidade para destinar recursos à pesquisa de novos combustíveis, já poderíamos estar obtendo – em escala industrial – hidrogênio a partir do etanol. E acionar com ele células a combustível (Fuel Cell) que geram energia para movimentar veículos elétricos. Abastecer um carro elétrico com etanol seria verdadeira sopa no mel num país que já o tem disponível em toda a rede de postos.

Entretanto, a pesquisa para viabilizar o etanol como combustível do carro elétrico não conta com verbas federais e está sendo realizada apenas por duas universidades paulistas financiadas por empresas do setor, Nissan e Volkswagen. A recém-vinda chinesa GWM também anunciou intenção de pesquisar esta opção.

O resumo da ópera é que, ao invés de estarmos discutindo incentivos aos combustíveis fósseis, já deveríamos – há tempos – estar desenvolvendo nosso potencial para movimentar a frota com energia limpa e renovável.

E exportando petróleo, enquanto é tempo…

Falo sobre os “carros elétricos a etanol”


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