Notícia Qual foi a maracutaia que liberou os SUVs a diesel?

Tudo começou com a Lei 346 de 1976 do Ministério da Indústria e Comércio, em meio a uma complicada crise do petróleo que afetou seu preço em todo o mundo. Ela continua válida, substituída pela portaria DNC (Departamento Nacional de Combustiveis) nº 23 de 1994.

Naquela época, sua importação prejudicava nossa balança comercial e o governo decidiu então restringir o diesel aos veículos pesados (ônibus e caminhões), jipes, picapes com caçamba para mais de 1.000 kg, vans para mais de 11 pessoas e máquinas agrícolas.

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Como se define um jipe? Segundo a legislação brasileira, jipes são veículos “com tração nas quatro rodas, caixa de mudança múltipla e redutor”. Não deixa margem a dúvidas de que, para ser jipe, tem que ter “redutor”, um dispositivo mecânico acionado pelo motorista acoplado à caixa ou diferencial e que reduz (encurta) a relação de todas as marchas do câmbio. SUV é jipe? Não, quase nenhum se enquadra na legislação. Só os que contam com a “reduzida”.


Mas, a Mercedes-Benz “convenceu” o governo federal (Contran), de que seu primeiro SUV, o ML 320 CDI lançado em 1997, tinha um sistema eletrônico capaz de substituir o redutor mecânico. Os técnicos do Contran aceitaram a “argumentação” da empresa alemã e o ML 320 foi então certificado como jipe e apto ao uso do diesel.

‘Redução eletrônica?’​


Nenhum manual de mecânica ou engenharia no mundo menciona uma “redução eletrônica”. A rigor, recursos eletrônicos podem, na prática, substituir o dispositivo mecânico e tornar veículos com tração 4×4 capazes de superar trechos de barro e lama. Mas, para ser considerado um “redutor”, só pode ser mecânico, ou seja, não o substitui perante a lei.

Outra “pressão” para equipar com motor diesel um veículo que não se enquadrava na legislação foi da Agrale pra o jipe Marruá. Um argumento ainda mais complicado e inaceitável: ela argumentava que sua caixa de câmbio oferecia a primeira marcha super-reduzida, chamada “primeira trator” e capaz de substituir a reduzida. Também muito bem sucedida junto ao Contran e tome motor diesel no Marruá.

Recentemente, a Ford nos EUA usou do mesmo recurso (não para enganar o governo, mas como um dispositivo mecânico de fato) no recém-lançado utilitário esportivo Bronco, que também oferece a “primeira trator” ao invés da reduzida.

Enxurrada de SUVs sem reduzida​


A Mercedes abriu a porteira do diesel para as outras marcas. Depois que a ML 320 CDI foi certificada para usar diesel, foi uma verdadeira enxurrada de utilitários esportivos sem a reduzida porém certificados como jipe. Alguns sequer oferecem dispositivos eletrônicos para superar o off-road, mas alegam oferecer a tal primeira super-reduzida seguindo o caminho aberto pelo Agrale Marruá.

O fato lamentável é que a “escorregada” do Contran foi de encontro à própria idéia que levou o governo a proibir o diesel nos automóveis: como paga menos impostos que a gasolina, a intenção era evitar que o baixo custo do diesel favorecesse os donos de carros de passeio. No frigir dos ovos, o próprio governo – por seu órgão de trânsito – atirou no pé ao aliviar exatamente o bolso dos mais ricos com “bala” para usufruir dos caríssimos SUVs com combustível barato.

Uma perfeita maracutaia, obtida sabe-se lá como, para permitir ilegalmente o motor diesel.

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