Há mais de um ano, a Lecar tem vendido promessa de uma montadora 100% nacional com veículos desenvolvidos no Brasil. Fundada pelo autointitulado “Elon Musk brasileiro” Flávio Figueiredo Assis, a história já teve muitas “idas e vindas”, mas até agora o que se viu foi apenas uma maquete (mockup) de carro nada funcional.
Primeiro, o Lecar 459 seria produzido no Rio Grande do Sul. Mas, depois ele mudou a produção da Lecar para o Espírito Santo e mais tarde anunciou que ele viria importado da China. E o que era 100% elétrico, virou híbrido. Além disso, a picape Campo também já foi anunciada…
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Ainda sem carro e sem fábrica, a Lecar já começou a formar a sua rede de revendedores. Tudo foi feito através das redes sociais da Lecar, onde divulgaram um link para os interessados se cadastrarem. A promessa é de que não usar o tradicional sistema de concessionárias, só é preciso ter um ponto comercial para ser vendedor.
Os interessados participaram de uma live na noite da última quarta-feira (27), onde Flávio Figueiredo Assis, fundador da Lecar, respondeu dúvidas e explicou o modelo de negócios. Ele diz que será similar a um adotado pela Tesla e pela Porsche (sic). Ele também falou mais sobre como andam os projetos dos carros.
A fábrica no Espírito Santo nem começou a ser terraplanada (Foto: Google Street View)
O próprio Flávio Figueiredo Assis admite que o cronograma da Lecar está atrasado. A empresa segue divulgando o prazo para lançar o carro em agosto de 2026, mas no presente momento essa data não seria possível.
O motivo do atraso é a fábrica de Sooretama, no Espírito Santo. Ela só existe nas projeções de computação gráfica, a construção está atrasada.
O empresário já realizou reuniões com a prefeitura de Jacareí (SP), demonstrando interesse na unidade construída pela Chery e que está desativada. Ele disse que o prazo de 2026 só será atingido se conseguir adquirir essa fábrica.
O plano da Lecar é de estrear com duas fábricas e capacidade para 120 mil carros por ano. Esse volume é similar ao que a Jeep emplacou durante 2024. E ele supera o contrato de fornecimento de motores feito com a Horse, que é de 12 mil unidades por ano.
Durante a live foi dito que poderá abrir mais fábricas futuramente. Há planos até de vender em outros países, como a Alemanha, com a intenção de popularizar o etanol fora do Brasil.
O segundo carro já foi anunciado, a picape Campo, e já confirmaram um terceiro (Foto: Lecar | Divulgação)
O discurso é sempre pautado em pedir confiança dos interessados e prometendo retorno garantido. O investimento para ter uma loja da Lecar é de R$ 15 mil, para poder ter os materiais oficiais da marca. Se quiser ter um modelo para exposição, poderá comprar um mockup do carro por R$ 200 mil.
O Flávio Figueiredo Assis deixou claro que suas lojas não precisarão ter um carro real exposto, estoque ou unidade de test drive. Ele vende carros para quem tem planejamento e falou várias vezes que os vendedores terão dinheiro garantido.
Quando os interessados em virar revendedores questionam sobre garantias caso a Lecar não cumpra o prometido — dúvida padrão de quem está embarcando em um negócio —, o fundador apenas pede para que confiem e diz que existem forças ocultas jogando contra. Apesar de todas essas incertezas, o número de pessoas apoiando o projeto foi alto.
Outra parte que foi explicada durante a live foi a metodologia de vendas. A Lecar não irá adotar financiamentos, leasing, consórcio ou vendas a vista. A única forma de adquirir um 459 ou uma picape Campo é através do método criado por eles chamado de “compra programada“. O preço é de R$ 159.300 para os dois modelos.
Todo o processo é feito diretamente com a empresa, sem intermédio de uma instituição financeira, e os pagamentos são por boletos. Existem três planos, todos parcelados e sem juros:
O comprador só receberá o carro após pagar metade das parcelas. Ou seja, quem adotar o plano de 48 vezes só receberá seu carro após dois anos. Mesmo com o lançamento do 459 programado para 2026, os primeiros clientes só terão posse dele em 2027.
Essa é a única forma de ter o carro, nem mesmo os revendedores poderão ter uma unidade de forma antecipada. No máximo o mockup de R$ 200 mil, que será limitado a 20 unidades por ano.
Quem decidir abandonar o pagamento do carro terá que pagar uma multa contratual. O volume de pedidos já feito não foi divulgado, segundo Flávio Figueiredo Assis metade deles foram feitos no estado de Santa Catarina.
Segundo a Lecar, o 459 híbrido terá propulsão a partir de um motor elétrico de 163 cv, mas a energia será gerada por um motor semelhante ao do Kardian (Foto: Lecar | Divulgação)
O carro já possui todas as especificações, mas ainda não possui unidades rodando em testes (Foto: Lecar | Divulgação)
A Lecar leva um mockup do 459 para vários eventos pelo brasil, é um modelo estático sem interior e as suas rodas nem giram. No início de agosto ela revelou a picape Campo durante uma feira, que também é uma maquete similar.
Em suas redes sociais também é mostrado um chassi, que serve para mostrar como será o trem de força dos carros. A ideia inicial era de fazer carros elétricos, mas os planos mudaram para um híbrido em série onde o motor a combustão atua apenas como gerador de energia para o pacote de baterias.
Trata-se do mesmo tipo de eletrificação do E-Power da Nissan e não precisa de plugar o carro na tomada. O motor a combustão é o 1.0 turbo flex fabricado pela Horse, usado pelo Renault Kardian e pela nova geração do Nissan Kicks.
O motor elétrico de tração é da chinesa HEPU Power e possui 165 cv e 26,3 kgfm. O gerador que recarrega as baterias é da brasileira WEG. A promessa é de rodar 1.000 km com um tanque de etanol.
No site oficial há uma ficha técnica completa dos carros, incluindo medidas e peso, mesmo sem existir uma unidade rodando. Também é listado que ele terá pacote ADAS.
Segundo as publicações nas redes sociais da Lecar e também as falas de Flávio Figueiredo Assis na live, o projeto sairá rápido do papel por usar componentes que já existem no mercado. Ele diz que várias empresas já estão colaborando como fornecedores.
Isso dá a entender que a suspensão, por exemplo, terá componentes já desenvolvidos para outros modelos. No site oficial constam nomes grandes como a Horse, Suspensys, Fras-le, Nakata, JBS Couros, Keko e o grupo Marcopolo.
Ainda assim, prometer um carro inédito pronto em apenas um ano é um prazo bastante ousado. A BYD, que se orgulha de ter mais de 100 mil engenheiros e um processo de desenvolvimento rápido, diz que precisa de 18 meses para desenvolver um carro. Marcas tradicionais, que possuem um longo processo de validação, levam de quatro a cinco anos.
Na lista longa de promessas está até blindagem de fábrica. Mas não voltaram ao assunto de produzir o carro na China antes de ser nacionalizado.
Enquanto os dois primeiros carros ainda são maquetes e não existe uma fábrica, a Lecar já divulgou um terceiro modelo: o SUV tático. Falta apenas que todas essas promessas saiam do papel.
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Primeiro, o Lecar 459 seria produzido no Rio Grande do Sul. Mas, depois ele mudou a produção da Lecar para o Espírito Santo e mais tarde anunciou que ele viria importado da China. E o que era 100% elétrico, virou híbrido. Além disso, a picape Campo também já foi anunciada…
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Ainda sem carro e sem fábrica, a Lecar já começou a formar a sua rede de revendedores. Tudo foi feito através das redes sociais da Lecar, onde divulgaram um link para os interessados se cadastrarem. A promessa é de que não usar o tradicional sistema de concessionárias, só é preciso ter um ponto comercial para ser vendedor.
Os interessados participaram de uma live na noite da última quarta-feira (27), onde Flávio Figueiredo Assis, fundador da Lecar, respondeu dúvidas e explicou o modelo de negócios. Ele diz que será similar a um adotado pela Tesla e pela Porsche (sic). Ele também falou mais sobre como andam os projetos dos carros.
Cronograma atrasado

A fábrica no Espírito Santo nem começou a ser terraplanada (Foto: Google Street View)
O próprio Flávio Figueiredo Assis admite que o cronograma da Lecar está atrasado. A empresa segue divulgando o prazo para lançar o carro em agosto de 2026, mas no presente momento essa data não seria possível.
O motivo do atraso é a fábrica de Sooretama, no Espírito Santo. Ela só existe nas projeções de computação gráfica, a construção está atrasada.
O empresário já realizou reuniões com a prefeitura de Jacareí (SP), demonstrando interesse na unidade construída pela Chery e que está desativada. Ele disse que o prazo de 2026 só será atingido se conseguir adquirir essa fábrica.
Pretensão de vendas: igual a Jeep
O plano da Lecar é de estrear com duas fábricas e capacidade para 120 mil carros por ano. Esse volume é similar ao que a Jeep emplacou durante 2024. E ele supera o contrato de fornecimento de motores feito com a Horse, que é de 12 mil unidades por ano.
Durante a live foi dito que poderá abrir mais fábricas futuramente. Há planos até de vender em outros países, como a Alemanha, com a intenção de popularizar o etanol fora do Brasil.
Vendas não serão por concessionárias

O segundo carro já foi anunciado, a picape Campo, e já confirmaram um terceiro (Foto: Lecar | Divulgação)
O discurso é sempre pautado em pedir confiança dos interessados e prometendo retorno garantido. O investimento para ter uma loja da Lecar é de R$ 15 mil, para poder ter os materiais oficiais da marca. Se quiser ter um modelo para exposição, poderá comprar um mockup do carro por R$ 200 mil.
O Flávio Figueiredo Assis deixou claro que suas lojas não precisarão ter um carro real exposto, estoque ou unidade de test drive. Ele vende carros para quem tem planejamento e falou várias vezes que os vendedores terão dinheiro garantido.
Quando os interessados em virar revendedores questionam sobre garantias caso a Lecar não cumpra o prometido — dúvida padrão de quem está embarcando em um negócio —, o fundador apenas pede para que confiem e diz que existem forças ocultas jogando contra. Apesar de todas essas incertezas, o número de pessoas apoiando o projeto foi alto.
Você compra o carro, mas só recebe bem depois
Outra parte que foi explicada durante a live foi a metodologia de vendas. A Lecar não irá adotar financiamentos, leasing, consórcio ou vendas a vista. A única forma de adquirir um 459 ou uma picape Campo é através do método criado por eles chamado de “compra programada“. O preço é de R$ 159.300 para os dois modelos.
Todo o processo é feito diretamente com a empresa, sem intermédio de uma instituição financeira, e os pagamentos são por boletos. Existem três planos, todos parcelados e sem juros:
- 48 x R$ 3.318,75;
- 60 x R$ 2.655,00;
- 72 x R$ 2.212,50.
O comprador só receberá o carro após pagar metade das parcelas. Ou seja, quem adotar o plano de 48 vezes só receberá seu carro após dois anos. Mesmo com o lançamento do 459 programado para 2026, os primeiros clientes só terão posse dele em 2027.
Essa é a única forma de ter o carro, nem mesmo os revendedores poderão ter uma unidade de forma antecipada. No máximo o mockup de R$ 200 mil, que será limitado a 20 unidades por ano.
Quem decidir abandonar o pagamento do carro terá que pagar uma multa contratual. O volume de pedidos já feito não foi divulgado, segundo Flávio Figueiredo Assis metade deles foram feitos no estado de Santa Catarina.
Como estão os projetos dos carros

Segundo a Lecar, o 459 híbrido terá propulsão a partir de um motor elétrico de 163 cv, mas a energia será gerada por um motor semelhante ao do Kardian (Foto: Lecar | Divulgação)

O carro já possui todas as especificações, mas ainda não possui unidades rodando em testes (Foto: Lecar | Divulgação)
A Lecar leva um mockup do 459 para vários eventos pelo brasil, é um modelo estático sem interior e as suas rodas nem giram. No início de agosto ela revelou a picape Campo durante uma feira, que também é uma maquete similar.
Em suas redes sociais também é mostrado um chassi, que serve para mostrar como será o trem de força dos carros. A ideia inicial era de fazer carros elétricos, mas os planos mudaram para um híbrido em série onde o motor a combustão atua apenas como gerador de energia para o pacote de baterias.
Trata-se do mesmo tipo de eletrificação do E-Power da Nissan e não precisa de plugar o carro na tomada. O motor a combustão é o 1.0 turbo flex fabricado pela Horse, usado pelo Renault Kardian e pela nova geração do Nissan Kicks.
O motor elétrico de tração é da chinesa HEPU Power e possui 165 cv e 26,3 kgfm. O gerador que recarrega as baterias é da brasileira WEG. A promessa é de rodar 1.000 km com um tanque de etanol.
No site oficial há uma ficha técnica completa dos carros, incluindo medidas e peso, mesmo sem existir uma unidade rodando. Também é listado que ele terá pacote ADAS.
Colaboradores ‘confirmados’
Segundo as publicações nas redes sociais da Lecar e também as falas de Flávio Figueiredo Assis na live, o projeto sairá rápido do papel por usar componentes que já existem no mercado. Ele diz que várias empresas já estão colaborando como fornecedores.
Isso dá a entender que a suspensão, por exemplo, terá componentes já desenvolvidos para outros modelos. No site oficial constam nomes grandes como a Horse, Suspensys, Fras-le, Nakata, JBS Couros, Keko e o grupo Marcopolo.
Ainda assim, prometer um carro inédito pronto em apenas um ano é um prazo bastante ousado. A BYD, que se orgulha de ter mais de 100 mil engenheiros e um processo de desenvolvimento rápido, diz que precisa de 18 meses para desenvolver um carro. Marcas tradicionais, que possuem um longo processo de validação, levam de quatro a cinco anos.
Na lista longa de promessas está até blindagem de fábrica. Mas não voltaram ao assunto de produzir o carro na China antes de ser nacionalizado.
Enquanto os dois primeiros carros ainda são maquetes e não existe uma fábrica, a Lecar já divulgou um terceiro modelo: o SUV tático. Falta apenas que todas essas promessas saiam do papel.
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