Bom para os produtores de biodiesel. Ruim para o motorista. Assim se pode resumir a decisão do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), em 25/06/2025, de aprovar um acréscimo de etanol na gasolina, de 27 para 30%. E de biodiesel no diesel, de 14% para 15% (B14 para B15).
Aliás, o CNPE, que pertence ao Ministério de Minas e Energia, já estava “instruído” a aprovar a proposta sugerida pelo governo e a reunião não passou de um espetáculo teatral com direito a discursos de ministros e do Presidente da República. E, claro, de um representante dos produtores de biodiesel…
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O governo comemora e empunha a bandeira da mobilidade sustentável para explicar a adição crescente de biocombustíveis aos derivados do petróleo. Mas o motorista nada tem a comemorar, pelo contrário, quanto mais biodiesel no diesel, tanto pior para o bolso e motor de seu veículo.
Quem saiu vitorioso na decisão do CNPE foi o lobby dos produtores de biodiesel, que vão aumentar em bilhões de reais seu faturamento às custas do prejuízo que fatalmente chegará ao bolso do brasileiro.
Na verdade, o governo montou uma base legal para impor esta artimanha energética ao setor dos transportes. Ela está amparada pela lei do Combustível para o Futuro, sancionada em 8 de outubro de 2024, “com o objetivo de promover a mobilidade sustentável de baixo carbono e consolidar o Brasil como líder da transição energética global”.
O governo federal alega que o aumento do teor de etanol na gasolina foi testado e aprovado pelo Instituto Mauá e que a lei do Combustível do Futuro permite uma mistura de até 35% de álcool na gasolina. Nada contra o álcool, é um excelente combustível. Mas lei nenhuma derruba um obstáculo físico-químico: os testes com o percentual de 30% de etanol revelaram que até aí os motores dos automóveis funcionam sem problema. Mas este é o limite para adição de álcool. Ou seja, quase impossível chegar aos 35% pretendidos pelo governo.
No caso das motos, a luz amarela já se acendeu, pois surgiram problemas de funcionamento mesmo com o teor de 30%. A Abraciclo, associação das fábricas de motos, se manifestou oficialmente contra esta adição do álcool.
Motos terão mais dificuldades com o ‘combustível do futuro’ (Foto: Shutterstock)
Porém, mais complicado é o aumento de biodiesel para 15%, o B15. Neste caso, é importante a opinião da CNT, Confederação Nacional do Transporte, que representa cerca de 200 mil transportadores, que sofrem na pele (e no motor) os problemas provocados pelo biodiesel:
“A CNT reforça a necessidade do estabelecimento de critérios técnicos e da realização de testes antes de qualquer alteração no percentual de biodiesel. Atualmente, o Brasil já adota um índice superior à média internacional de 7%, o que tem gerado desafios operacionais para o transporte rodoviário. A Entidade alerta que teores elevados podem causar formação de borra nos tanques, entupimento de bicos injetores, comprometimento da potência dos veículos e redução da vida útil das peças”.
Num português mais claro, a borra mencionada pela CNT faz parar caminhões na estrada, ônibus voltarem guinchados para as garages, custo operacional aumentado com dobro da troca de filtros e óleos lubrificantes, desentupimento e retífica de motores. E o perigo de um gerador (acionado por motor diesel) de hospital se recusar a funcionar na queda de energia elétrica durante uma cirurgia.
Filtro de óleo de um ônibus abastecido com diesel B14 (Foto: Divulgação)
A Anfavea, associação das montadoras, protestou no passado contra o B15, mas agora decidiu se silenciar (por motivos políticos) e ignorar os problemas provocados pelo biodiesel nos motores de seus associados.
O presidente da República fez questão de estar presente à reunião do CNPE que aprovou esta agressão ao brasileiro. À mesa, uma dezena de ministros de Estado e representantes da sociedade. Só faltou uma cadeira: a da CNT, legítima representante dos principais envolvidos na questão, os donos de veículos com motores diesel.
Mas, ao governo, não interessa ter consciência dos contratempos que o biocombustível provoca nos motores diesel. Nem de existir uma solução para o problema, o diesel verde (ou HVO), que tem molécula idêntica à do diesel derivado do petróleo.
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Aliás, o CNPE, que pertence ao Ministério de Minas e Energia, já estava “instruído” a aprovar a proposta sugerida pelo governo e a reunião não passou de um espetáculo teatral com direito a discursos de ministros e do Presidente da República. E, claro, de um representante dos produtores de biodiesel…
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Mobilidade sustentável? Balela!
O governo comemora e empunha a bandeira da mobilidade sustentável para explicar a adição crescente de biocombustíveis aos derivados do petróleo. Mas o motorista nada tem a comemorar, pelo contrário, quanto mais biodiesel no diesel, tanto pior para o bolso e motor de seu veículo.
Quem saiu vitorioso na decisão do CNPE foi o lobby dos produtores de biodiesel, que vão aumentar em bilhões de reais seu faturamento às custas do prejuízo que fatalmente chegará ao bolso do brasileiro.
Na verdade, o governo montou uma base legal para impor esta artimanha energética ao setor dos transportes. Ela está amparada pela lei do Combustível para o Futuro, sancionada em 8 de outubro de 2024, “com o objetivo de promover a mobilidade sustentável de baixo carbono e consolidar o Brasil como líder da transição energética global”.
O problema é o percentual
O governo federal alega que o aumento do teor de etanol na gasolina foi testado e aprovado pelo Instituto Mauá e que a lei do Combustível do Futuro permite uma mistura de até 35% de álcool na gasolina. Nada contra o álcool, é um excelente combustível. Mas lei nenhuma derruba um obstáculo físico-químico: os testes com o percentual de 30% de etanol revelaram que até aí os motores dos automóveis funcionam sem problema. Mas este é o limite para adição de álcool. Ou seja, quase impossível chegar aos 35% pretendidos pelo governo.
No caso das motos, a luz amarela já se acendeu, pois surgiram problemas de funcionamento mesmo com o teor de 30%. A Abraciclo, associação das fábricas de motos, se manifestou oficialmente contra esta adição do álcool.

Motos terão mais dificuldades com o ‘combustível do futuro’ (Foto: Shutterstock)
Biodiesel
Porém, mais complicado é o aumento de biodiesel para 15%, o B15. Neste caso, é importante a opinião da CNT, Confederação Nacional do Transporte, que representa cerca de 200 mil transportadores, que sofrem na pele (e no motor) os problemas provocados pelo biodiesel:
“A CNT reforça a necessidade do estabelecimento de critérios técnicos e da realização de testes antes de qualquer alteração no percentual de biodiesel. Atualmente, o Brasil já adota um índice superior à média internacional de 7%, o que tem gerado desafios operacionais para o transporte rodoviário. A Entidade alerta que teores elevados podem causar formação de borra nos tanques, entupimento de bicos injetores, comprometimento da potência dos veículos e redução da vida útil das peças”.
Num português mais claro, a borra mencionada pela CNT faz parar caminhões na estrada, ônibus voltarem guinchados para as garages, custo operacional aumentado com dobro da troca de filtros e óleos lubrificantes, desentupimento e retífica de motores. E o perigo de um gerador (acionado por motor diesel) de hospital se recusar a funcionar na queda de energia elétrica durante uma cirurgia.

Filtro de óleo de um ônibus abastecido com diesel B14 (Foto: Divulgação)
A Anfavea, associação das montadoras, protestou no passado contra o B15, mas agora decidiu se silenciar (por motivos políticos) e ignorar os problemas provocados pelo biodiesel nos motores de seus associados.
O presidente da República fez questão de estar presente à reunião do CNPE que aprovou esta agressão ao brasileiro. À mesa, uma dezena de ministros de Estado e representantes da sociedade. Só faltou uma cadeira: a da CNT, legítima representante dos principais envolvidos na questão, os donos de veículos com motores diesel.
Mas, ao governo, não interessa ter consciência dos contratempos que o biocombustível provoca nos motores diesel. Nem de existir uma solução para o problema, o diesel verde (ou HVO), que tem molécula idêntica à do diesel derivado do petróleo.
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