Os veículos com motor movido a óleo diesel, principalmente as caminhonetes, sempre foram sinônimo de robustez. Hoje a situação está diferente, a internet está cheia de relatos de problemas nesses modelos — até a famosa Toyota Hilux está quebrando com uma frequência impensável há poucos anos. Muitos culpam uma peça: a bomba de alta pressão.
O fato é que os motores diesel modernos exigem mais cuidados, já que precisam produzir mais potência enquanto emitem menos poluentes. Para conseguir isso foi preciso aumentar a tecnologia embarcada.
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Essa é a famosa CP4 da Bosch
Uma das principais mudanças nos motores diesel atuais para os antigos é a pressão de trabalho da bomba injetora. Ela trabalha entre 2.000 e 2.300 bar, enquanto na geração anterior de motores era por volta de 1.300 bar. Em motores mais antigos a pressão ficava na faixa de 400 bar. Ou seja, uma pressão quase seis vezes maior, que demanda componentes de alta precisão, além de um cuidado redobrado com o diesel que passa por essas bombas.
A CP4 é um modelo de bomba injetora de alta pressão produzida pela Bosch, que é usada pela Volkswagen Amarok, Ford Ranger e outras picapes. Ela possui especificações similares a outras peças do tipo feitas por outros fornecedores, como a Denso e a Continental.
A bomba CP4, em específico, ganhou a fama na internet por causa dos problemas apresentados pela Amarok. Ela inclusive não é usada pela Toyota Hilux, como alguns acusam nas redes sociais.
Esses modelos modernos de bomba injetora de alta pressão são feitos em alumínio. Outra diferença para as antigas é que sua lubrificação interna é feita pelo diesel, não pelo óleo do motor.
A Amarok foi a primeira caminhonete a usar esse tipo de bomba no Brasil e pegou a má fama (Foto: Volkswagen | Divulgação)
Conversamos com Júnior Alves, mecânico automotivo da oficina Eco Automotive, de Lorena (SP). Ele foi um dos primeiros a avisar sobre as quebras que vêm acontecendo na Toyota Hilux.
Segundo o especialista, as quebras ocorrem por problemas na manutenção. Quando é feita a troca do filtro de combustível, é preciso fazer uma sangria pelo scanner, caso contrário ela irá funcionar a seco — já que depende do diesel para ser lubrificada.
Quando ela funciona dessa forma, ocorre atrito entre as peças internas por não estar lubrificada. Isso gera fadiga no material e solta limalhas de metal, que vão parar no combustível.
O diesel B15, com 15% de adição do biodiesel, também pode acelerar os problemas. Por ser higroscópico, ou seja, absorve a umidade do ambiente, ele perde o poder de lubrificação quando for contaminado. Isso também faz que as peças internas na bomba sofram desgaste acentuado.
No caso da bomba CP4, ela trava e o proprietário precisa trocar a peça e os bicos injetores. Na Toyota Hilux os problemas são maiores quando há contaminação.
Consultamos também Luciano Jaccoud, instrutor de cursos técnicos para linha Volkswagen e Audi, que trabalha muito com a Amarok. A picape alemã foi a pioneira em usar a bomba CP4 no Brasil, que hoje também é usada pela Ford Ranger, linha diesel da Stellantis e até mesmo pela GWM Poer P30.
Segundo o especialista, a bomba CP4 é mais sensível ao nosso diesel e a falhas de manutenção. A fama negativa veio mais pela viralização das falhas em Amarok nas redes sociais. Ele completa:
No caso da Hilux, a bomba é acionada pela corrente de sincronismo do motor (Foto: Toyota | Divulgação)
Júnior Alves explica o a sequência de problemas que resultam em danos maiores ao motor da Toyota Hilux:
Trabalhando “a seco”, essa peça pode travar e arrebentar a corrente do motor. Aí os danos são bem maiores, pois os comandos saem de sincronismo, os pistões atropelam as válvulas e os danos saem caro para o consumidor.
Questionamos a Toyota sobre esses relatos, confira a resposta:
O óleo diesel vendido atualmente no Brasil é o B15, que possui 15% de biodiesel em sua composição. Júnior Alves diz que o combustível hoje precisa ser tratado como um produto com prazo de validade.
O biodiesel é 30 vezes mais higroscópico que o diesel extraído do petróleo. Isso significa que ele absorve a umidade do ar e virar um ambiente propício para a proliferação de bactérias.
Tudo isso faz que ele perca algumas propriedades, como a de lubrificação da bomba injetora de alta pressão. Segundo Júnior Alves, o aumento do teor de biodiesel exigirá ainda mais cuidados.
Especialistas recomendam abastecer em postos com maior rotatividade, com os frequentados por caminhoneiros, por terem menos risco de contaminação (Foto: Shutterstock)
Infelizmente não tem como fugir do diesel B15, mas tomando alguns cuidados você irá evitar a quebra da bomba de alta pressão. Júnior Alves recomenda abastecer sempre em postos com alta rotatividade, como os que ficam em rodovias e são frequentados por caminhoneiros.
Nesses locais a demanda pelo óleo diesel é maior e existem menos riscos do combustível ficar muito tempo nos tanques absorvendo umidade. Em centros urbanos, por exemplo, a demanda por esse combustível é menor e ele pode degradar mais.
Existe uma norma do governo para que os postos drenem a água que forma nos tanques de diesel uma vez por semana para evitar esses problemas. Em caminhões existe um tipo de torneira para essa sangria, mas nos SUVs e caminhonetes há apenas um aviso.
Outra recomendação de Júnior para a hora do abastecimento é usar um aditivo estabilizante de combustível a cada três tanques. Ele indica usar o recomendado pelo fabricante do veículo. Esse serviço custa entre R$ 900 e R$ 1.000.
Para a manutenção do carro, ele indica retirar o tanque de combustível uma vez por ano para fazer uma análise e limpeza. Assim será possível detectar as limalhas caso a bomba esteja sofrendo desgaste.
O especialista também recomenda trocar o filtro de combustível na metade do prazo recomendado pelo fabricante ou a cada seis meses. Com esses cuidados, você terá um controle maior da manutenção e os ricos de quebras inesperadas caem.
Para a linha Volkswagen existe um dispositivo que altera o fluxo da bomba e protege a peça (Foto: VW | Divulgação)
De acordo com Luciano Jaccoud, existem kits no mercado para trocar a bomba CP4 pela CP3. Porém ele não recomenda realizar essa mudança por ser complexa, cara e alterar os parâmetros originais de trabalho do motor.
Uma recomendação dele para a linha Volkswagen e Audi é instalar um dispositivo de proteção conhecido popularmente como Protect Plug. Ele funciona da seguinte forma:
Os motores turbodiesel modernos evoluíram bastante nos últimos 20 anos. Se antigamente as picapes eram conhecida por serem lentas e soltarem muita fumaça, hoje elas contam com bom desempenho e ficaram mais econômicas.
Para ter esses benefícios o consumidor precisa ter mais cuidados na manutenção preventiva e na hora de abastecer.
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O fato é que os motores diesel modernos exigem mais cuidados, já que precisam produzir mais potência enquanto emitem menos poluentes. Para conseguir isso foi preciso aumentar a tecnologia embarcada.
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O que é a bomba de alta pressão?
Essa é a famosa CP4 da Bosch
Uma das principais mudanças nos motores diesel atuais para os antigos é a pressão de trabalho da bomba injetora. Ela trabalha entre 2.000 e 2.300 bar, enquanto na geração anterior de motores era por volta de 1.300 bar. Em motores mais antigos a pressão ficava na faixa de 400 bar. Ou seja, uma pressão quase seis vezes maior, que demanda componentes de alta precisão, além de um cuidado redobrado com o diesel que passa por essas bombas.
A CP4 é um modelo de bomba injetora de alta pressão produzida pela Bosch, que é usada pela Volkswagen Amarok, Ford Ranger e outras picapes. Ela possui especificações similares a outras peças do tipo feitas por outros fornecedores, como a Denso e a Continental.
A bomba CP4, em específico, ganhou a fama na internet por causa dos problemas apresentados pela Amarok. Ela inclusive não é usada pela Toyota Hilux, como alguns acusam nas redes sociais.
Esses modelos modernos de bomba injetora de alta pressão são feitos em alumínio. Outra diferença para as antigas é que sua lubrificação interna é feita pelo diesel, não pelo óleo do motor.
O que faz a bomba CP4 quebrar
A Amarok foi a primeira caminhonete a usar esse tipo de bomba no Brasil e pegou a má fama (Foto: Volkswagen | Divulgação)
Conversamos com Júnior Alves, mecânico automotivo da oficina Eco Automotive, de Lorena (SP). Ele foi um dos primeiros a avisar sobre as quebras que vêm acontecendo na Toyota Hilux.
Segundo o especialista, as quebras ocorrem por problemas na manutenção. Quando é feita a troca do filtro de combustível, é preciso fazer uma sangria pelo scanner, caso contrário ela irá funcionar a seco — já que depende do diesel para ser lubrificada.
Quando ela funciona dessa forma, ocorre atrito entre as peças internas por não estar lubrificada. Isso gera fadiga no material e solta limalhas de metal, que vão parar no combustível.
Esse óleo diesel com limalhas sai da bomba, vai para os injetores e voltam para o tanque pelo sistema de retorno, criando um ciclo que contamina o combustível”, explica.
O diesel B15, com 15% de adição do biodiesel, também pode acelerar os problemas. Por ser higroscópico, ou seja, absorve a umidade do ambiente, ele perde o poder de lubrificação quando for contaminado. Isso também faz que as peças internas na bomba sofram desgaste acentuado.
No caso da bomba CP4, ela trava e o proprietário precisa trocar a peça e os bicos injetores. Na Toyota Hilux os problemas são maiores quando há contaminação.
Falha de projeto ou problema crônico?
Consultamos também Luciano Jaccoud, instrutor de cursos técnicos para linha Volkswagen e Audi, que trabalha muito com a Amarok. A picape alemã foi a pioneira em usar a bomba CP4 no Brasil, que hoje também é usada pela Ford Ranger, linha diesel da Stellantis e até mesmo pela GWM Poer P30.
A CP4 foi projetada na Europa para atender normas de emissões rigorosas (para isso ela atinge pressões altíssimas) e para ser mais barata de produzir que a antecessora, a robusta CP3. O problema é que ela foi pensada para o diesel europeu, que tem uma qualidade e, principalmente, um percentual de mistura de Biodiesel muito diferente do nosso.
Segundo o especialista, a bomba CP4 é mais sensível ao nosso diesel e a falhas de manutenção. A fama negativa veio mais pela viralização das falhas em Amarok nas redes sociais. Ele completa:
Tenho alunos na Europa, Estados Unidos, e eles relatam o mesmo problema lá, mas com uma diferença: não é tão frequente, acontece apenas quando a bomba é exposta a um Diesel ou condição de uso muito severa. Minha conclusão é que o Brasil é o caso de severidade em 90% do tempo.
Bomba de alta pressão da Hilux pode destruir o motor
No caso da Hilux, a bomba é acionada pela corrente de sincronismo do motor (Foto: Toyota | Divulgação)
Júnior Alves explica o a sequência de problemas que resultam em danos maiores ao motor da Toyota Hilux:
O motor 2.8 turbodiesel da Toyota Hilux atual tem a bomba de alta pressão tocada pela mesma corrente metálica que faz o sincronismo do motor. Se o filtro pressurizado de combustível não for trocado, ele fica saturado e prejudica a lubrificação da bomba.
Trabalhando “a seco”, essa peça pode travar e arrebentar a corrente do motor. Aí os danos são bem maiores, pois os comandos saem de sincronismo, os pistões atropelam as válvulas e os danos saem caro para o consumidor.
Questionamos a Toyota sobre esses relatos, confira a resposta:
Identificamos que os casos relatados estão relacionados à qualidade do combustível utilizado (diesel contaminado e/ou fora de especificação). Os clientes que nos contataram foram prontamente atendidos.
Biodiesel é o vilão da bomba de alta pressão
O óleo diesel vendido atualmente no Brasil é o B15, que possui 15% de biodiesel em sua composição. Júnior Alves diz que o combustível hoje precisa ser tratado como um produto com prazo de validade.
O biodiesel é 30 vezes mais higroscópico que o diesel extraído do petróleo. Isso significa que ele absorve a umidade do ar e virar um ambiente propício para a proliferação de bactérias.
Tudo isso faz que ele perca algumas propriedades, como a de lubrificação da bomba injetora de alta pressão. Segundo Júnior Alves, o aumento do teor de biodiesel exigirá ainda mais cuidados.
Como evitar problemas com a bomba de alta
Especialistas recomendam abastecer em postos com maior rotatividade, com os frequentados por caminhoneiros, por terem menos risco de contaminação (Foto: Shutterstock)
Infelizmente não tem como fugir do diesel B15, mas tomando alguns cuidados você irá evitar a quebra da bomba de alta pressão. Júnior Alves recomenda abastecer sempre em postos com alta rotatividade, como os que ficam em rodovias e são frequentados por caminhoneiros.
Nesses locais a demanda pelo óleo diesel é maior e existem menos riscos do combustível ficar muito tempo nos tanques absorvendo umidade. Em centros urbanos, por exemplo, a demanda por esse combustível é menor e ele pode degradar mais.
Existe uma norma do governo para que os postos drenem a água que forma nos tanques de diesel uma vez por semana para evitar esses problemas. Em caminhões existe um tipo de torneira para essa sangria, mas nos SUVs e caminhonetes há apenas um aviso.
Outra recomendação de Júnior para a hora do abastecimento é usar um aditivo estabilizante de combustível a cada três tanques. Ele indica usar o recomendado pelo fabricante do veículo. Esse serviço custa entre R$ 900 e R$ 1.000.
Para a manutenção do carro, ele indica retirar o tanque de combustível uma vez por ano para fazer uma análise e limpeza. Assim será possível detectar as limalhas caso a bomba esteja sofrendo desgaste.
O especialista também recomenda trocar o filtro de combustível na metade do prazo recomendado pelo fabricante ou a cada seis meses. Com esses cuidados, você terá um controle maior da manutenção e os ricos de quebras inesperadas caem.
Como prevenir os problemas na linha Volkswagen
Para a linha Volkswagen existe um dispositivo que altera o fluxo da bomba e protege a peça (Foto: VW | Divulgação)
De acordo com Luciano Jaccoud, existem kits no mercado para trocar a bomba CP4 pela CP3. Porém ele não recomenda realizar essa mudança por ser complexa, cara e alterar os parâmetros originais de trabalho do motor.
Uma recomendação dele para a linha Volkswagen e Audi é instalar um dispositivo de proteção conhecido popularmente como Protect Plug. Ele funciona da seguinte forma:
É uma modificação simples no fluxo interno da bomba. Ele separa o circuito de lubrificação do came/rolete do circuito de alimentação dos pistões de alta.
Se o rolete falhar e gerar limalha, essa limalha fica retida na carcaça da bomba e não contamina os bicos, a flauta e os sensores. Assim o reparo será trocar apenas a bomba de alta, um custo de talvez R$ 5.000, em vez de trocar o sistema de injeção inteiro por R$ 50.000.
Os motores turbodiesel modernos evoluíram bastante nos últimos 20 anos. Se antigamente as picapes eram conhecida por serem lentas e soltarem muita fumaça, hoje elas contam com bom desempenho e ficaram mais econômicas.
Para ter esses benefícios o consumidor precisa ter mais cuidados na manutenção preventiva e na hora de abastecer.
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